sábado, 2 de janeiro de 2010

Boris Casoy e o caso dos garis

 Estava ontem vendo um jornal na Tv Bandeirantes – vulga Band – quando de repente surge o rosto do Boris Casoy, focalizado, pedindo desculpas pelo que disse no dia anterior, o áudio estava aberto e ele acabou falando coisas que não devia, ofendendo a todos os garis.
Como não havia visto jornal no dia anterior, fui procurar o vídeo no Youtube e constatei que o caso é ainda mais grave. O último Jornal da Band de 2009 acaba com dois garis desejando felicitações para o ano que se inicia, saúde, sucesso, dinheiro... enfim, o que todos desejam. Eis que se ouve ao fundo Boris Casoy dizer: “Que merda! Dois lixeiros, no alto de suas vassouras... Dois lixeiros, o mais baixo na escala do trabalho!” ( clique aqui para assistir )
E enquanto via, me questionava como um sujeito como ele, sendo um dos jornalistas mais considerados do país, consegue ter uma opinião tão mesquinha, tão nojenta, tão ridícula como essa. Como pode ele, que vive colocando o dedo na cara e dizendo: “Isso é uma vergonha!” ser capaz de pensar assim? E ao mesmo tempo me pergunto o que será que há na biografia de Boris Casoy para ele se considerar tão especialmente melhor e mais capacitado na escala do trabalho?
Na Inglaterra, um Dj foi demitido simplesmente por dizer que o discurso da Rainha Elizabeth II era 'chato'. Somente por isso. E aqui no Brasil, uma ofensa deste tipo, será relevada com um simples pedido de desculpa?
Uma vez tive um professor que disse: “Credibilidade é algo que se demora anos pra construir, mas em um minuto pode acabar.” No caso deste senhor, foi preciso até menos que um minuto, bastaram 15 segundos. Agora, Boris Casoy faz jus ao seu bordão: Ele é uma vergonha.


10 comentários:

Stella Melgaço disse...

Nossa! Realmente uma vergonha, deixa a gente em choque...difícil até de acreditar nas desculpas, q foram somente por ter vazado e não por ele estar arrependido do q disse e ter mudado de idéia!
Lamentável.

António Corvo disse...

Pois é, meu caro cronista, como diria, ou melhor, cantaria o Seu Jorge, "é isso aí..." Isso não me surpreende nem um pouco. Na verdade, isso é fichinha perto do que se diz e do que se faz fora do ar. Conheço quem trabalha na área e, pelo que sei, é dentro dessas redações de telejornal que os garis deviam estar trabalhando. Mas o pior é que eu quase chego a entender o que esse animal do Casoy quis dizer. Calma!!! Não estou defendo o homem!!! Entender não é defender! Estou falando como profissional da área de letras, linguística e comunicação social. Dentro de toda a infelicidade do comentário do Casoy, houve coerência - repito, coerência discursiva, apenas!, nada mais!!!. O que ele quis dizer - e o fez da pior maneira possível - foi mostrar a antítese que seria (percebeu o tempo verbal?), repito, que seria, um gari, supostamente - repito, supostamente - um profissional que, no imaginário popular, queiramos ou não - mas há as pessoas com educação, cultura e espírito elevado o suficiente pra saber que o que vou dizer não traduz a verdade ipsis litteris -, por trabalhar com lixo, estaria, estarIA - não está!!! - na base da cadeia profissional da sociedade. Para o Casoy, isso resultou num humor imbecil, mas coerente. Para ele, foi uma incongruência, um disparate, pessoas que, supostamente, não têm nada, vivem mal e ganham pouco, desejarem exatamente o que não têm para todos nós. Estão entendendo onde eu quero chegar? Não estou defendendo o Casoy, que foi de uma das maiores infelicidades da história do jornalismo brasileiro, de um preconceito estúpido e de um sentimento raso e mesquinho sem proporções. Mas... - há sempre o mas... -, discursivamente, o que ele fez foi algo de que todos nós riríamos se estivéssemos assistindo a um show de comédia stand up! Arregalaram os olhos e levantaram as sobrancelhas, né? Mas pensem bem. Será que todos nós já não rimos de situações de humor - ok, vou colocar entre aspas - de "humor" que, de forma caricata e exagerada - com o perdão do pleonasmo - ridicularizaram esteriótipos para nossa alegria e diversão que, como já disse no meu blog - acho que até aqui num comentário - é simulada e esperada dentro de um contexto? Penso que o que o Boris quis dizer foi apenas isso: que é estranho fazer uma matéria em que garis desejem dinheiro e prosperidade. Discursivamente falando! Estou fazendo uma análise estruturalista - e é por isso que na história da linguagem o estruturalismo é tão execrado. É óbvio que eu adoraria que o gari que trabalha na minha rua, que limpa a calçada por onde ando certamente porque uns safados sem vergonha não tem a menor educação pra viver em sociedade e jogam lixo na rua tendo uma lata de lixo do lado!!!, me desejasse feliz ano novo sinceramente. Por que não? Antes de ser gari, ele é uma pessoa com defeitos, acertos, particularidades enfim, e pode ser até boa pessoa - não estou me referindo aos garis, e sim ao ser humano em geral. Então, no caso de ser uma pessoa boa, de bom coração e boa índole, é claro que eu vou retribuir com um sorriso um "feliz ano novo" - mesmo com toda a paranóia crítica sobre o assunto sobre a qual falo no meu blog. É possível até que um "feliz ano novo" de um gari tenha muito mais sinceridade e boas vibrações que um que venha de Brasília, de um empresário que rouba os empregados, de um jornalista de merda que manipula os fatos e faz pouco das pessoas! Respondam-me vocês: um cartão de natal do gari que varre a sua rua ou um email de um político com votos de boas festas??? Qual você prefere? Pois é, pois é.
Eu espero ter-me feito entender, e preciso repetir que não estou defendendo o Boris Casoy. Foi infeliz. Fato. Foi grosseiro. Fato.

António Corvo disse...

Mas vamos voltar para a stand up comedy. Será que não riríamos dessa situação em outras circunstâncais? Claro, há contextos, mas o objeto do riso não terá sido o mesmo? Eu acho que se ele tivesse dito só a primeira parte, fazendo o que ele achou que fosse humor, dentro de um contexto social - e aqui acho que a palavra é mais importante: contexto social, humor social, coerência dentro de um contexto antropológico, das relações metafóricas das condições de trabalho a que nos expomos e a que estamos submetidos uns aos outros - talvez, para algumas leituras mais aprofundadas, houvesse menos alarde. Desconforto haveria - pois o contexto não seria o de um show de comédia - mas talvez não tanto alarde. Contudo, quando ele diz que "o lixeiro é o mais baixo na escala de trabalho", aí já passa a ser burrice mesmo, de uma infelicidade infinita, porque a pergunta passa a ser: há uma escala de trabalho? Eu sou escritor. Onde me encaixo? O jornalista, onde se encaixa? O professor? Escalas são arbitrárias, são convenções, dependem de referências e a sua pode não girar sobre o mesmo eixo cultural que o meu. Se falarmos, entretanto, em relações de trabalho, quase no sentido comunista - digo quase porque essa questão no comunismo é mais complexa, mas quis evidenciar o sentido da união, das partes funcionando como um todo; talvez a idéia da simbiose se encaixasse melhor... - aí sim o parâmetro passa a ser único: um trabalha para o outro e cada um tem a sua importância, incapaz de ser medida ou comparada em relação à outra. Mas, mesmo assim, perigosamente arriscaria dizer que há uma fresta por onde o segundo comentário do Boris Casoy nos faria rir em determinadas outras situações. Então, meus amigos e meu caro cronista, que também é meu amigo: será que, partindo do pressuposto que nós, sim, riríamos de comentários semelhantes em outras situações, a diferença entre a indignação e a catarse cômica está apenas no lugar em que ela se faz? E veja, quando faço essa pergunta, ela é para mim também! Já que mexemos na colméia, vamos meter a mão lá dentro pra tirar o mel também: nós não rimos de piadas sobre homossexuais? Não rachamos de rir com personagens-tipo - pelo menos com os de boa qualidade - baseados em homossexuais? Ou judeus? Ou negros? Ou outras maiorias? - sim, maiorias, porque eu seria muito tolo chamar o negro de minoria, tenha a santa paciência... Isso sim é discurso de manipulação que, aliás, muitos negros precisam parar de repetir por aí! Negro não é minoria, negro é ser humano como qualquer outro traste de ser humano: branco, amarelo, vermelho, híbrido... Somos todos uma bobagem só e no final, do jeito que a coisa anda, é Deus quem ri por último, e ri melhor. E da gente!!!

António Corvo disse...

Bem, acho que escrevi demais, pra variar, mas era preciso dizer que não estou apoiando nem defendendo o Boris, estou apenas tentando mostrar como funciona uma mente totalmente adequada ao sistema de valores e de referências que é a nossa sociedade. E como funcionam também as mentes que já conseguiram se libertar. É, Boris, isso é uma vergonha sim! No bom português: puta que pariu, cara, que merda!!! Mas houve um motivo cultural e interno pra esse discurso - do qual eu não compartilho, que fique bem claro -, mas houve. E isso, meus caros amigos e caro cronista, foi só um deslize! Todos nós sabemos que a coisa funciona assim - talvez não para nós, ou, quem sabe, internamente também funcione assim mas somos pessoas que conseguimos, consicentemente, pensar no processo na hora em que ele acontece e abortá-lo - e, se funciona na mídia e na política, é de se esperar que funcione também na mente do povo, donde, como costumo dizer, nada mais me surpreende... Nem mesmo um pedido de desculpas que, vejam que curioso, é apenas um reconhecimento do erro, não uma supressão da mentalidade que o originou! Essa, não tem desculpa, foi construída dessa forma por muitas décadas, praticamente cinco séculos. Mas, vá lá, o homem pediu desculpas... E nós, (excetuem-se as exceções), que jogamos lixo na rua na cara dos garis. Já viram isso? O gari está lá com a caçamba e vem um débil mental e joga lixo do lado dele!!! E esse que nem desculpas pede? Desculpas por estar desperdiçando órgãos vitais! E agora, faço-vos a pergunta final com a qual tenho trabalhado no meu blog durante todo esse ano de 2010: "Feliz ano novo"?

Eduardo Araújo disse...

O que você esperava assistindo band?
Falando sério; o que saiu dos lábios do babaca em questão só impressionou porque foi dito em rede nacional. Imagine como ele deve estar se sentindo agora, depois de uma fração gorda do brasil ter ouvido o que ele disse, haha... Só isso já é castigo suficiente, a maioria das pessoas pensam como ele e não são castigadas, e nem deveriam... A verdade é que ele fez um favor pra todos nós, deixou bem claro pra bastante gente como esse tipo de pensamento é ridículo.

Anônimo disse...

Assim como faz o Sr. Fausto Silva com as videocassetadas e seus comentários infelizes, chamando as pessoas de asnos, jumentos, baleias assassinas, e a platéia toda ri...

Unknown disse...

meu deus, que vergonha! tem cada um nesse pais, que a cada dia por incrivel que pareça nos surpreende sempre né?!
ps: esta otimo o eco-blog, de 'vento em polpa', estão otimos os textos, ja estava que nao me aguentava de falta ! ahahha

beeijoos !

Wesley Garcia disse...

vcs que defenderam sim,o Bóris..quem limpa a merda de vcs,a merda diária? O Bóris,ou os garis? pensem nisso,seus babacas de classe média decadente brasileira!

Unknown disse...

É só um personagem , que ele interpreta para dar as notícias!!!
Realmente ele é uma VERGONHA!!!!

Anônimo disse...

Uma frase infeliz, tem poder de destruição muito maior que uma arma convencional, não foi o que ele disse que me entristeceu, mas foi como ele disse, com frieza, sem preocupação de ferir aqueles que estavam a sua volta os colegas de trabalho, e as palavras demonstram o interior das pessoas, e infelizmente ele mostrou ser uma pessoa totalmente preconceituosa com uma sociedade desprovida de recursos ( lixeiros , jardineiros, frentistas, balconistas, empregadas domésticas e muitas outras profissões do baixo escalão com ele falou ). O mundo levou décadas para tirar este tipo de gente do poder e da mídia, não podemos deixar que isso passe impune, mais um mensalão, mais um ato desonesto, Chega de sermos complacente com tudo isso, temos o direito de pedir que ele se retire da Dand, que levou tantos anos para chegar aonde esta, e por causa de um homem preconceituoso pode perder muito em credibilidade com o seu publico, aonde muitos telespectadores já associam a opinião de Boris Casoy a da emissora, e se nada for feito neste sentido ai podemos dizer da Dand ” ISTO É UMA VERGONHA!”