Se adular com o reluzente,
é tapar o ouro que não brilha,
mas pesa.
E que peso, afinal, tem o tal ouro
diante de carvão cristalizado?
Não se pode, por ventura, hostilizar,
nem depredar o pobre esplendor.
O ouro -embora convenção-
tem ainda o seu valor.
Mas o que reluz não me impressiona,
nem me tira do lugar.
O que vive de mostrar reflexo,
o que sobrevive da exatidão,
tem hora-dia-mês
e prazo de duração.
Se o ouro é precioso
e se engrandece na lapidação
o valor afinal, é do ouro
ou da mão do artesão?
O que transpassa, obviamente,
sempre me teve mais valor.
Que chata são as coisas que vivem
de ser-se apenas.
Eu não quero ser o que sou
e só.
Eu quero ser além