sexta-feira, 10 de julho de 2009

Sobre não saber desenhar.

Ainda sobre as minhas frustrações, das habilidades não escolhidas, uma que muito me chateia é eu não saber desenhar. Quer dizer, saber desenhar qualquer pessoa sabe, nem que seja o tal do boneco palitinho. Mas eu falo desenhar pra valer, acho fantástico quem com uma simples caneta e uma folha em branco, constrói uma cena com perfeição. Desenhar é representar o divino. Antes de se quer imaginar escrever, o homem – das cavernas, claro - desenhava nas grutas o seu cotidiano.
Se soubesse desenhar, desenharia tudo, ilustraria minhas histórias, passaria para o papel o rosto de cada um que eu conheço. Mas é, eu só desenharia se soubesse. Aliás, escrevo, em parte, porque não sei desenhar. Não sei fazer imagens então escrevo imagens. Ou tento.

ps: Texto co-escrito por Clara Melo.
ps²:E quando a autora do desenho aqui de cima resolver desenhar este autor que vos fala, compartilharei com todos.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Sobre ser calorento.

Se tem uma coisa que eu não gosto de ser é calorento. Não é foi algo opcional, eu não tive a menor voz ativa nessa escolha, eu simplesmente um dia, cheguei ao mundo assim, suando. Se eu pudesse adentrar o além e dar somente um conselho aqueles que por aqui chegarão, diria para sentirem frio, muito frio. Aqui nesta terra brasilis, onde a temperatura média varia entre muito calor pra calor extremo, os tais calorentos feito eu, sofrem. E muito!
É muito mais fácil sentir frio. Você está em algum lugar e ao sentir frio, prontamente pega o seu casaco - porque há de ter um sol transformando concreto em frigideira, um friorento legítimo sempre tem um casaquinho escondido – e resolve seu problema. Você está indo dormir e está com frio. O que você faz? Pega um lençol, uma colcha, um edredom, um cobertorzinho e no último nível, um daqueles cobertores de lã cheio de fiapos que ao entrar em contato direto com a pele, funciona quase como pó-de-mico, fazendo uma coceira daquelas. Mas e se ao invés de frio, você sente calor? Não há o que fazer de imediato, você precisa de uma série de aparatos técnicos para poder se refrescar.
E o que eu considero pior: você vira refém da coletividade. Até nisso o friorento se dá bem! Porque se você está num ambiente onde a maioria é calorenta, liga-se o ventilador, o friorento põe seu casaquinho e todo mundo fica feliz. Agora, se você está num ambiente em que a maioria é friorenta, as pessoas ao invés de pensarem na coletividade, pensam em si próprios, não querendo que se ligue sequer o ventilador, fazendo com que o friorento ria de orelha a orelha por estar naquela estufa, enquanto o calorento, coitado, sue que nem um bacon na chapa.
E parece que sempre haverá de ser assim: Enquanto um se mata de felicidade com as suas muitas dermes de algodão, resta ao outro suar e esperar sua morte seca e árida.

Michael, the Jackson.

Michael Jackson morreu e disso ninguém tem dúvida. Nunca fui muito fã dele. Conhecia uma ou outra música, o tal passinho 'moonwalker' e só. Por isso, não venho aqui pra falar do Michael Jackson, e sim, de como as pessoas estão reagindo nessa pós-morte. Primeira coisa: vamos parar de palhaçada.
Até o dia da morte, Michael Jackson era um artista decadente, um pedófilo safado, que renegava sua identidade negra e operava o nariz loucamente. Depois da morte, a mesma mídia que o arruinou, transforma-o no maior ícone da música pop, colocando seus clipes em todos os canais e seus cd's como os mais vendidos. Agora é tarde, chorar sobre o leite derramado não muda em nada.
Sobre o Michael Jackson em si, eu não tenho o que dizer. Eu acho que ele não era normal simplesmente porque ele não conhecia a normalidade. O cara é mega famoso desde os 6 anos de idade, apanhava do pai, odiava os irmãos... não sei se tinha como ele ser um cara normal, casado, com filhos, vivendo o típico estilo americano de ser.
No mais, pedófilo ou não, decadente ou não, fica o fenômeno que ele, preto ou branco, sempre há de ser.




domingo, 5 de julho de 2009

Carlos, o taxista.

Ele entra naquele carro como se entrasse na vida agora. Abre a porta com firmeza e a fecha com mais firmeza ainda. Algo o estava incomodando.
- Mas o que houve seu moço, parece tão apreensivo... diz o motorista
- Estou nervoso, muito nervoso, mais nervoso do que outrora já tenha ficado na vida.

Suando, com as mãos em cima dos joelhos que não paravam de balançar, ele não estava mesmo muito bem. Talvez tivesse terminado o casamento, mas era muito moço para estar casado, pensou o motorista.
- E o que é que o senhor tem afinal?
- Você não entenderia se eu contasse.

Já esperando o pior, o motorista tenta se lembrar do noticiário da noite anterior. De repente aquele homem ali do lado era alguém procurado pela polícia. Ou então algum golpista famoso que não fosse nem pagar a corrida.
- Ora, mas se o senhor não quer contar, eu respeito, afinal a vontade do cliente sempre prevalece, não é mesmo?
Sem responder ou emitir palavra, o homem balança a cabeça como se concordasse com aquilo que o outro lhe falava.
- Mas me diga então, para onde nós vamos?
- Eu não sei.
- Como assim não sabe? Você entra no táxi e não sabe para onde vai?
- Não! É esse o motivo da minha aflição!
- Ora, e para onde eu vou?
- É isso que eu me pergunto, amigo: Para onde eu vou?
- Você pode ir para onde quiser, desde que me diga antes e que tenha dinheiro pra pagar a corrida... brincou o taxista
- Mas eu não sei para onde ir.

Quando ele pensa encostar o carro no cantinho da rua e vai diminuindo a velocidade, o homem diz:
- Queria só pedir pra você não encostar.
- Por quê? Quem diabos é você? Não sabe pra onde quer ir mas não quer que pare. Você é algum bandido procurado? Está fugindo da polícia? Olha companheiro, queria te dizer que eu sou pai de família, tenho duas meninas em casa me esperando, se você quiser levar meu dinheiro, leva, meu táxi, leva, só, por favor, não faça nada comigo!
- Calma, eu não sou nenhum bandido e nem quero te roubar. Eu só quero achar um lugar pra ir, e quando você encosta, dá impressão que eu já cheguei.
- Eu não posso ficar aqui o dia todo com você. Ou você se decide para onde ir ou desce do meu táxi, por favor.
- Você não pode me dizer algum lugar pra ir?
Sem ter muito o que dizer, Carlos vai pelo óbvio:
- Ora, eu nem lhe conheço. Você não tem família?
- Não.
- Desde quando você não sabe para onde ir?
- Desde o momento que eu entrei aqui.

Carlos se vira e olha a cara do sujeito de perfil. Algo nele desperta a simpatia do taxista.
- Rapaz, gostei de você, sabia? Essa tua confusão até que é bem divertida. Você tá com fome?
- Estou!
- Já que não tem lugar nenhum pra ir, aceita me acompanhar até a lanchonete ali do próximo quarteirão? Está na hora do meu almoço e o sanduíche ali é muito bom. Quem sabe lá conversando você não escolha algum lugar para ir?
- Seria ótimo.
Carlos para na porta da lanchonete e vai desligando o carro as poucos.
- Vai saindo!
Pede para o homem.
O homem sai como se tivesse renascido. Não sabia ele que havia encontrado o melhor amigo de sua vida.