sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Gênesis

No princípio era ela. E todas as coisas dela vieram.
A água que lhe escorria pela face enchia o mundo. A ponta de seus dedos esculpiam os relevos, as rochas e as relvas. Seu sopro fazia crescer tudo que tinha vida. Não havia palavra que não saísse de sua boca.
Na medida que ria, dava brilho ao sol. No oposto, era a lua que se iluminava. Porque tudo nela era claro. Era de luz até sua escuridão.

sábado, 11 de setembro de 2010

Carta para o quase amor

Escrevo esta carta para registrar todos os encontros que nunca tivemos. Escrevo para me lembrar de todas as luas que não pudemos olhar. Meu quase amor, que você não se esqueça de todos os convites que eu não lhe fiz e que não esqueça também as desculpas que nunca precisou dar.
Escrevo pra eternizar as noites que planejamos ficar acordados sem nos importar com quantos dias seriam precisos para compensá-las. Ah! Escrevo por todas as sessões de cinema que não perdemos, por todos os teatros que não fomos e por todos os dramas que não choramos. Escrevo também pelos filmes de terror que você não chegou mais perto. Aliás, escrevo por todas as vezes que você não chegou mais perto, seja por falta minha ou tua.
Não posso esquecer de citar todas as brigas que não pudemos ter tido e todas as voltas que só as essas brigas poderiam proporcionar. Escrevo por todas as mãos que não se entrelaçaram. Escrevo por todas as vezes que os olhares não se perderam dentro das tantas vidas que vivem neles. Quantas vidas cabem no seu olhar? Ainda não descobri, mas escrevo por todas elas também.
Escrevo pelo sol que não pôde iluminar com mais força nossa pele e por todo pássaro que não poderá fazer coral para nossa passagem. Escrevo por todos os caminhos que não poderão sentir os meus passos tão desalinhados ao lado dos teus.
Escrevo a você, que chamo de quase para não afirmar a ausência, sem pudores. Escrevo para deixar gravado tudo que não pudemos viver, por falta minha ou tua, isso já não importa.
Deixo registrado até o que dói em mim. Mas que não seja só. Quando você voltar, já não serei mais o mesmo. Então além de todas essas coisas, escrevo também pelo amor que você não teve. E talvez, nunca terá.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Isso também passa

É tudo sem importância.
­As coisas todas!
Me entristeço
Pensando nisso

­Quase tudo
­Não vale o esforço
­É pequeno demais
Para a vida

­Não vale a raiva
­Nem o rancor
­Não vale a mágoa
­Nem a dor

O que vale disso tudo
E sobra mesmo no final
É o amor que se tem
muito mais que o carnal

sábado, 4 de setembro de 2010

Agora não mais

Um dia fui quem você procurou.
O primeiro da sua lista de contato,
Aquele que te vinha a cabeça antes de qualquer coisa.

Um dia fui quem você sonhou.
O cara que chega de cima do cavalo branco.
Aquele com que cada beijo é sempre o primeiro.

Um dia fui o que você quis.
O seu ator preferido.
A sua canção preferida.
O seu preferidamente melhor.

Um dia fui e hoje sou lembrança,
Sou pergaminho na história da tua vida.
Tudo que eu fui não tem mais importância,
Você nem lembra mais de mim.