domingo, 8 de julho de 2012

Promete que não vai


Promete que não vai embora. Diz para mim, bem devagar, que não vai embora rápido assim. Quanto mais devagar você diz, mais tempo demora e eu, fico daqui só te observando. Não sei se você sabe o quanto é bom te ver, como quem procura sem motivo, como quem acha sem perder, só te ver, de relance, numa tarde de um dia qualquer da semana. Já está escurecendo, está tarde para você ir. E eu vi na previsão do tempo que talvez comece a chover. É perigoso sair na chuva e de noite, então fica aqui que você não vai correr nenhum desses perigos.  Como é? Eu sei que você acha que meu olhar é um perigo e que corre muito mais risco aqui, mas eu me preocupo contigo. Além do mais, está frio e você ainda corre o risco de pegar um resfriado. E do jeito que é, vai botar a culpa em mim ainda. Eu sei que talvez esteja sendo um pouco egoísta. Está bem, eu admito que estou sendo totalmente egoísta, mas como eu faço para não ser? Você que é tão leve e solta, me ensina essa história de não precisar. Eu não sei viver assim, eu só sei viver precisando. É quase uma condição urgente na vida, eu como, durmo, mijo e preciso. Desculpa se coloquei o preciso junto da outra coisa, mas é que a flor-de-lótus nasce da lama e, as vezes, é preciso um pouco de sujeira na vida. Estou começando a desviar do assunto e quando faço isso, acabo nunca conseguindo falar o que realmente quero. Vamos ser francos, uma hora você vai ter que ir. Eu poderia me alimentar dessa esperança boba, de que você vai ficar aqui para sempre, de que não vai largar a minha mão, mas uma hora isso vai acontecer. Então não adianta. A vida atropela a gente mesmo e o nosso encontro foi qualquer acidente desses que a vida tem. Façamos então um trato: volta amanhã. Eu sei que está de noite, e que mesmo com o frio e a chuva, você insistirá em partir. Então não adianta lhe pedir para ficar. Você vai embora, dorme, mas volta amanhã? Aliás, volta daqui a pouco. Isso! Façamos assim: Você vai embora, dorme e volta urgente. Volta logo, volta breve, volta daqui a pouco. Vou piscar o olho e, de repente, você vai estar aqui. Que tal? Não demora aparecer, pois eu morro. A maioria desses poetas sai pelas ruas dizendo morrerem de saudade. Eu não, digo só para você e aviso: eu morro mesmo. E não demora muito, morro mais. Já morri várias vezes na vida. Espera. Não adianta apertar o botão várias vezes, o elevador não vem mais rápido.  Só espera. Tem certeza de que esse casaco basta? Então tá, você é quem sabe. E a gente se despede como? Já é quase amanhã e é amanhã que você vem. Então eu digo “até amanhã” e a gente finge que amanhã é longe? Ou você espera mais um pouco e eu digo “até hoje”, como se hoje fosse só daqui a uma semana? Então tá. Ah! Já ia esquecendo o guarda-chuva. Isso, agora sim. Você tem essa mania engraçada de me matar de saudade com qualquer partida. Eu sei que você precisa ir, então é isso. E como você sugeriu, até daqui-a-pouco - com a gente fingindo que daqui-a-pouco é só no mês que vem, para eu poder morrer de saudade se você aparecer no próximo minuto.