sexta-feira, 3 de junho de 2011

Sobre esquecer o amor

Falava com um amigo sobre doer e sofrer por amor. E ele me dizia sobre como se passa por cima da saudade e da dor.  Dor de amor não é esquecida, é cicatrizada. É aterrada de cal e cimento para que se possa voltar a pisar e, assim, seguir em frente. É tatuagem que se faz na pele para esconder a cicatriz. É qualquer coisa que some, mas não desaparece. É qualquer coisa que se esconde, mas não se esquece. Dor de amor é fingir.
            Fingir que ela está com outro e você não se importa. Fingir que não quer saber se ele ainda usa aquela camisa que você deu no último aniversário. Se ela está mais magra, se ele está mais forte, se eles parecem mais felizes. É um desimportar simulado que é mais presente que a própria importância. Se pensa tanto em não se importar que acaba se importando muito mais do que antes.
Esquecer alguém é como se livrar de alguma droga. Antes de tudo, é preciso que haja desintoxicação. Vai comprar um pão e outro aparece. Vai escrever um texto e o outro aparece. Vai ler um livro e o outro aparece. O outro é pensamento invasivo, é ladrão da nossa autonomia. É preciso que se vá, pouco a pouco, diminuindo sua dosagem.
É inevitável que se doa. Esquecer alguém é antes de tudo assumir a dor. Não é ter medo dela. Nem dizer que a dor não existe e que o outro passou sem deixar nada. Mais do que deixar, o outro, inevitavelmente, leva um tanto da gente. Cada um que passa, despedaça um pouquinho a nossa alma. Por isso que, para esquecer alguém, é preciso, antes de tudo, ostentar a dor. E pisar nela com os pés descalços, até calejar a sola. Até que de tanto vidro, corte, arranhão e cicatriz, a dor se esquece de doer. E aí você segue em frente.
Um amor não se esquece, mas cicatriza. Cicatriz é ferida sem dor. Haverão de se reconhecer, uns aos outros, pelas marcas da batalha. Esquecer, então, é fechar os buracos que deixam na alma, e seguir.  Aguentando o peso extra daquela dor em coma. Daquela dor que, aparentemente morta, pode tranquilamente, anos depois, renascer como se desconhecesse o óbito. Viver é aguentar o peso de todas as dores, e seguir. Mais cedo ou mais tarde, a vida sempre segue.