terça-feira, 20 de abril de 2010

Lembranças-câncer

  Certa vez ouvi um médico falando que “o câncer é uma célula que esqueceu de morrer”. Essa explicação me fez lembrar que na vida, tudo tem seu prazo de validade. As vezes evitamos o começo, que até pode não acontecer, mas o fim é inevitável. Sábio o poeta que disse que o eterno só existe enquanto durar. Ele viu o que fingimos não ver.
  As lembranças são como as células. As piores lembranças são aquelas que esquecem de morrer. Anulam o fim, tapam os olhos e se acreditam no presente. Foi passado. É passado. Mas elas ignoram e fingem não ver. Pretensiosas, agem como se existissem. Vez ou outra confio numa dessas lembranças-câncer e faço tudo errado.
  Preciso de tratamento. Vou ligar para o plano de saúde e ver o que eles cobrem. Será que eles tem quimioterapia na memória? É disso que eu preciso.

sábado, 17 de abril de 2010

Amor financeiro

 Todo amor, no início, é como a bolsa de valores. Não importa quanto se ganha ou quando se perde, tudo estava no risco do investimento. Arriscamos muito, arriscamos tudo, que temos e não temos, pra fazer dar certo. No início todo investimento vale a pena. O prazer é a incerteza da próxima noite. Cancelamos compromissos, inventamos coisas e criamos situações. Arriscamos.
 Mas com a segurança e o tempo, a panela de pressão vira chaleira. Como a criança que abandona a chupeta, vamos ficando cheios daquele amor. Ora, pra que investir, se sabemos que já está lá?
Abandonamos as roupas novas, as histórias novas e viramos acomodados do amor. Do mesmo amor que fazia a gente arriscar. Se antes o amor era investimento na bolsa de valores, agora ele é conta-poupança. E a gente, vai sobrevivendo dos rendimentos desse amor.