Até que um dia encontrou Maria Elisa. E não tardou para o sujeito se transformar. Viu a moça uma ou duas vezes e foi o suficiente para se render aos seus predicativos. Mudou de número, de grau e desde então, só pensava em ser composto ao lado dela. Mudou até de lugar, procurando seu espaço na oração de Maria Elisa. Mas ele não era bobo e foi logo montando a cena. 'Eu, tu e toda a felicidade do mundo' foi o que propôs a moça sem nem saber se ela tinha ou não complemento. Pobre do Paulo de pensar que aquela morfologia toda não teria já alguém que a classificasse.
Aludiu, citou e até definiu, mas nada era capaz de despertar a feição da moça. Maria Elisa não era dessas preposições que se engraçam com qualquer sujeito não. E Paulo, só não mudou de gênero porque era dessas regras que não admitia exceção. Botava uma coisa na cabeça e ia até o sufixo da questão.
Sem conseguir por força de suas próprias derivações, nosso amigo, que nunca foi subordinado, prestou-se a fazer algumas orações. Pensava que 'se Ele existe mesmo, vai me conceder a graça de Maria'. Mas não teve efeito algum, afinal, Maria Elisa já tinha seu sujeito oculto – que Paulo, sem nem conhecer, já considerava-o bastante indeterminado.
E quase cheio de suas próprias tentativas, falou com a tal da Elisa num tom oblíquo que só ele conseguia. Cansado de enrolação, foi até ela para colocar um ponto final – ou reticências, já que dependia da vontade da mocinha. Disse que não era de se abater por qualquer conjugação, mas não suportava a ideia de viver um amor coletivo. E mandou ela decidir: eu, contigo, ou tu, sem ninguém?
Curiosa a história de Paulo. Ele nunca foi dessas abstrações de amor, mas depois de Maria Elisa, não pensava em uma só coisa concreta. E foi por isso, também, o seu fim. Depois de colocar exclamação na vida da pobre moça, resolveu, também, terminar a própria história.
Armou-se da coragem dos artigos definidos e com um desses objetos indiretos, morreu. Intransitivo que só ele.