quinta-feira, 26 de novembro de 2009

"8 estórias"

Não vivia para o amor, vivia para amar. Se apaixonava, se entregava e acabava sozinho. Até que um dia usou a coragem não só pra dizer adeus, mas pra falar o que sentia de verdade. Escreveu uma carta que foi endereçada a cada uma das mulheres que ele já havia se apaixonado: Giovana, Laura, Claudia, Sofia, Luna, Ruana e até para Carmem, que ele tanto mentiu e nem sabia se o endereço estava certo.
“Com você me sentia sozinho. Com você não sabia esperar. Em todas procurava o futuro que nenhuma poderia me dar.”
E quem vive para amar, não sentia o amor. E todo amor esquecido foi acumulando-se dentro de si, ficando cada vez maior, até que se tornou grande o suficiente a ponto dele poder ver. E quando viu o quanto seria capaz com o amor, teve medo e fugiu.
Terminou dizendo: “E todo amor que dentro de mim pode haver, rouba e usa só pra você. Agora, não preciso mais dele.”


( Sob influência total influência de “8 estórias” )

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Felicidade sem fim

Hoje acordei com uma felicidade sem fim. Não que não tivesse fim, sabia que em algum momento chegaria algo pisando no calo da minha alegria, mas naquele momento me pareceu infinito. E ao mesmo tempo, era tanta felicidade, que não cabia dentro de mim. Aliás, era felicidade demais pra guardar só pra mim. E então fui deixando sair, aos poucos, aquela sensação gostosa, aquele riso solto, aquela leveza nos ombros... Que minha alegria atingisse o vizinho da outra casa, da outra rua, do outro país, do outro mundo. E então fui deixando que toda aquela minha alegria se espalhasse pelo bairro, país, planeta, espaço. Foi tanta, tanta alegria que tinha em mim, que saiu tudo. O mundo continua a mesma coisa, exceto eu, que agora estou triste.

Estranheza das palavras

Tem palavras que despertam na gente sentimentos curiosos. Não exatamente pelo seu sentido literal, mas só pela sua grafia, de certo modo, faz com que sintamos uma estranha empatia. Comigo acontece isso. Termômetro, gincana e abobrinha, por exemplo. Não tem nada a ver uma com a outra, mas pensar nelas me dá uma felicidade estranha. Coisa de maluco que gosta de escrever.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Ultrapassado no próprio tempo

Ando impressionado com muita coisa. As notícias passam tão rápido nas telas que nos cegam os olhos, que eu confesso que me sinto ultrapassado, quase sempre. Quase tudo me gera estranheza. Música, filme, livro, pessoas e fatos. Aquela música que todo mundo está cantando a dias e eu nem sequer ouvi. Aquele filme que fez o maior sucesso, virou trilogia, ganhou Oscar, eu nunca nem vi. Bebês e crianças salvos, milagrosamente, da ira de um metrô e um carro. Tudo isso me deixou ultrapassado. Porque agora, o que escrevo já virou passado. Tecnicamente é como se nada estivesse dentro mesmo do seu tempo. Mas o que mais vem me impressionando são as pessoas e os livros. Ou melhor, o que elas escrevem, não necessariamente livros, mas textos, poemas e crônicas, publicados nestes tantos blog's que existem por aí. É tanta gente escrevendo bem que eu me pergunto se dessa safra será possível selecionar alguém para ser reconhecido no futuro.
Salvou-se Machado de Assis, Guimarães Rosa, Drummond e meu querido Mario Quintana. Todos lembram de Rachel de Queiroz, Cecília Meireles, Cora Coralina e minha querida Clarice Lispector. Cada um marcou o seu momento, deixou expressa sua marca na partícula infinitesimal de tempo que viveram. Mas a sensação que eu tenho é como se agora, todos resolvessem renascer. Juntos!
É como se eu estivesse vivendo ao lado de Machados, Rosas, Andrades, Quintanas, Queirozes, Cecilias, Coralinas e Clarices. É como se eles tivessem feito um acordo, algo como “já fizemos tão bem separados, o que poderemos fazer se estivermos juntos?”. É impressionante o número de pessoas que estão escrevendo, e bem. É como se através de Claras, Marcelas, Julias, Antonios e tanto outros que eu conheço, os grandes estivessem ressuscitados. E é desse questionamento que nasce este texto: Será que no meio de tantos gigantes contemporâneos, camuflados de cidadãos normais, há espaço pra mim?