domingo, 23 de janeiro de 2011

Coração de vidro

Viver de resto é juntar os cacos de amor que ficam pelo caminho.
Há tempos venho notando que meu coração é um tanto de vidro,
daqueles que não suportam nem muito frio, nem muito calor.
Foi feito para viver na brisa de algum sol que está se pondo.
Mas perto de você é inevitável que ele rache.
E mais ao teu lado ainda, é inevitável que ele se quebre.
Porque, meu bem,
O calor do teu corpo no meu
es quen ta

sábado, 22 de janeiro de 2011

Despedida sutil

Não me coloca na sua vida sem querer. Não me faz querer pensar em você a cada hora que passar. Não me faz querer te impressionar na tarde de uma segunda-feira. Não me apresente aos seus pais. Nem aos seus amigos.
Não me faz decorar o seu aniversário. Nem as coisas que você gosta. Não me faz ter que lembrar sempre que a sua parte da pizza é sempre sem cebola. E que você gosta que eu te segure pelo pescoço.
Não me conta sobre o seu trabalho. Nem que ainda está estudando. Não me conta dos seus planos para o futuro. Nem me inclua em nenhum deles. Não te faça ser importante para mim. Eu mesmo não vou ser para você.
Não me faz perder as horas ao teu lado. Não me diz que você ama a minha companhia. Nem me faz amar a sua.
Não me faz rir contigo. Nem me faz ser a pessoa que você vai ligar quando achar que está muito doente. Não me faz preocupar com você. Nem se preocupa comigo.
Não me coloca na sua vida sem querer e depois me tira dela assim de qualquer jeito. Até a despedida pede um pouco de sutileza.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Entre a gente vivia um Pessoa

Já tive memórias de que nunca mais lembrei
Mas jamais me esquecerei dela naquela noite.
Seu sorriso brilhava o céu,
e, enquanto ela falava,
eu me ia prendendo no quadriculado de sua roupa.
Do choro foi-se ao riso.
E riu até esquecer porque chorava.
Poucas coisas me são tão certeza
quanto esta que lhes vou contar:
Ela é linda quando lê Fernando Pessoa.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Post Scriptum

Depois de tudo o que eu lhe disse
Fica ainda a questão
Quantas linhas consigo escrever
Só com a palma da tua mão?

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Desilusão

Tenho pena do meu cachorro quando pensa que vai tomar banho. Todo se alegra, levanta e corre em busca do sol, já considerando a cumplicidade que seu corpo terá com os raios em breve. É o mesmo que sente a criança que imagina ganhar o que espera no Natal. Poucas coisas são mais tristes que uma criança desiludida. Desilusão é sentimento humano que os bichos aprenderam.
Sempre achei curioso a palavra humano. Como pode se referir tanto a homens quanto a mulheres?
Talvez por isso tenha tanta dificuldade em chamar meu cachorro pelo nome certo. Meu cachorro é fêmea. Seria uma cadela – ou cachorra – mas considero isto tudo muito vulgar. Por isso, me dou ao direito de chamá-la de cachorro, mesmo não sendo. Gosto de me enganar, as vezes,
Me iludo para alimentar minhas paranoias. Elas nunca ficam desiludidas.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Amor Esfarelado

Gosto de você como se gostasse de um biscoito.
Recheado, partido, quebrado, não importa.
O que importa é que ele existe.
Ah! Meu amor por você existe.
Se é doce, salgado, meio amargo, já nem sei.
Mas de que me importa saber dizer?
Amor bom é aquele que quando chega, bagunça tudo.
E parte, e quebra, e desarruma tudo na gente.
Porque amor bom é sempre assim, até quando esfarelado.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Senilidade do amor

Guarde as tuas frases de efeito, teu sorriso no canto da boca e sua vontade de querer ficar. Planeje suas férias sozinho, seus passeios sozinhos e as vezes que quiser ficar em casa, também. Não quero nada mais que venha de você.
Não estudo sua pregação, não prego mais a sua doutrina e acredito que jamais tornarei a fazer. Acontece que se eu não admito vacilar comigo, muito menos admitiria sendo com você.
Você errou, principalmente, quando me disse que não erraria. Aliás, também eu errei por ter acreditado nisso. Como sustentar um erro que se justifica noutro?
Como cobrar de volta todas as vezes que tirei o termômetro quando você teve febre ou todas as vezes que lhe cobri quando fazia frio?
Como cobrar a vela de todos os bolos que ficarão sem ser acesas, tendo eu, ao teu lado depois, para apaga-las?
Contigo descobri a vida e esperei a morte. Ao teu lado renasci quantas vezes foram precisas. Mas agora não.
Não quero nada que venha de você. Mais ainda, não quero que você venha nunca mais de volta.