sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Tchau

Todos os dias passo embaixo da sua janela. Não grito, não paro, não chamo, não jogo nada. Só passo.
Tomei esse hábito desde que a gente parou de se falar. Passei a falar com as migalhas de pão que você deixa cair pelo caminho. Passei a falar com o papel de chiclete que você comeu e jogou no meio-fio. Não ouço mais a sua voz, mas ouço os pássaros cantando na árvore em frente a sua casa e deixo eles falarem por mim. Já conheço todos por nome. Eles também me reconhecem. Aposto que comentam entre si que eu estou chegando.
Por quê você não chega na janela? Por quê você não resolve olhar na hora em que eu passo? Talvez você nem saiba que eu faço isso. Talvez você nem repare nas coisas que eu deixo pra você. Outro dia deixei uma história encostada naquele banco que a gente costumava sentar. Já deixei também aquela flor que você adorava pegar quando passávamos pela rua de trás.
Todos os dias passo embaixo da sua janela. Meu GPS tem rota única, qualquer caminho sempre me leva à você. Agora deixa eu ir embora. Eu sei que você vai estar me esperando. Só você é quem não sabe. Amanhã eu volto. Tchau.

5 comentários:

António Corvo disse...

E eu é que sou "mestre"???

Unknown disse...

Lendo tudo isso,alias 'isso' não, lendo essas suas doces e calorosas palavras que juntas formam essa maravilha fico com uma vontade que o 'eu' poético que você se transforma ao escrever ficasse constante no seu dia a dia. Plenamente maravilhada, como sempre.

Unknown disse...

às vezes eu o acho tão engraçado que esqueço que quando fala sério, me arrepia.

Larissa disse...

muito bonito...

Gabriela disse...

Ficou lindo seu texto ! Gostei principalmente do final :) Adoro seus textos, eles tem um encanto que agrada e chama atenção, nem sei explicar.