Deu sinal para o primeiro ônibus que passou. Qualquer um ia para onde ela ia. Não importava como, importava chegar. Ia almoçar e já pensava no jantar. Ia pro Natal fazendo contagem regressiva para a virada do ano. Ela era dessas que tira o esmalte antes dele sair sozinho. Antecipava tudo. Adiantava tudo. Primeiro colhia o fruto, depois plantava a semente.
O ônibus estava cheio. O povo sentado fazia cerimônia para o povo de pé. Ninguém abria mão de nada. Seguiam firme, todos, olhando reto. Menos o rapaz da penúltima fileira. Ele não podia endurecer o pescoço. Seu olhar se curvava para ver aquela mulher. Não tinha como não reparar. Ela já era outra. Aquela que chegou inteira já não estava nem metade. Encolhida no banco, ela não parecia bem.
Foi até a última parada para descobrir o ponto final daquela história. Todos desceram e ele a esperou. Ela não levantava. Agora era caso de vida ou morte. Ele levantou e foi até ela. Seus passos não a alcançavam. A mulher de pele quente, de passo forte, que subiu com toda pressa que há nessa vida não estava mais ali. Ele via o que sobrou dela.
Acordou como em qualquer outro dia. Escovou os dentes e botou a roupa amarrotada para não perder tempo. Sua amiga já a esperava para jantar. O rapaz percebeu que, no momento que se aproximou, presenciou o fim. Cada expiração tirava mundo de dentro dela. Cada inspiração enchia ela de ar. Até que a última foi fatal. Ficou cheia e oca ao mesmo tempo. Preenchida de nada.
Colocou a roupa amarrotada e saiu como em um dia qualquer. Mas aquele não era um dia qualquer. Era caso de morte. Hoje, ela se vestiu para morrer.
Acordou como em qualquer outro dia. Escovou os dentes e botou a roupa amarrotada para não perder tempo. Sua amiga já a esperava para jantar. O rapaz percebeu que, no momento que se aproximou, presenciou o fim. Cada expiração tirava mundo de dentro dela. Cada inspiração enchia ela de ar. Até que a última foi fatal. Ficou cheia e oca ao mesmo tempo. Preenchida de nada.
Colocou a roupa amarrotada e saiu como em um dia qualquer. Mas aquele não era um dia qualquer. Era caso de morte. Hoje, ela se vestiu para morrer.
2 comentários:
A poesia que transborda em um texto assim, estruturado em conto, é mais bonita que a organizada em estrofes, na minha opinião.
Gostei da sua ''mudança de sentimentos''. Esse texto não ficou parecido com os outros, não falei apenas de um amor inalcansável. Me identifiquei na parte onde você fala que a ''Ela era dessa que tira o esmalte antes dele sair sozinho (...)'' Eu sou totalmente uma pessoa que adianta tudo, sou muito ansiosa com tudo !
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