sábado, 10 de outubro de 2009

Comédia trágica é uma tragédia.

Acabo de assistir 'Divã', elaborado pela minha caríssima Martha Medeiros, e senti por ele o que sinto por todos esses filmes que se disfarçam de comédia mas que são mais tristes que um monte de filme de drama. Juntos!
O filme começa com a Lilian Cabral, que entendiada com o casamento, acaba buscando uma experiência fora dele. Se envolve então com o Reynaldo Gianecchini, se separa, faz sexo na boate com o Cauã Reymond e (re)descobre prazeres que ela achava já ter perdido. Até aí tudo bem.
Eis que vai se aproximando do final e dá-se a catástrofe! Ela não arruma ninguém, não volta para o marido e sua única e melhor amiga morre de um câncer raro e fatal.
Caso igual acontece com outro sucesso de bilheteria, o simpático e divertido “Marley & Eu”. Concordo que ele seja assim do início até a metade. Mostra o casal no começo de namoro – ou casamento talvez -, as alegrias e diversões de começar uma vida a dois e a chegada do então filhote Marley. Do início até a metade do filme mostra o desenvolvimento dessa família, o crescimento do cachorro, a ascensão profissional do marido... enfim, vai narrando a vida dos personagens e o desenrolar dos fatos. Porém, do meio até o final, mostra o cachorro envelhecendo, definhando e a família entrando numa tristeza sem fim, que tem como ápice a sua morte.
Agora me diga você: Isto é comédia? A gente passa o filme todo rindo, pra chegar no final todo tristonho e reflexivo? Eu proponho que nas capas dos filmes estivessem escrito não só 'comédia' ou 'drama', mas 'comédia com teor dramático' ou 'meio comédia meio drama'
Eu acho essa enganação uma crueldade. Quando vejo comédia, vejo para rir, rir e rir mais um pouco. Fazer chorar já é sacanagem...

4 comentários:

Unknown disse...

Esse texto não só está a sua cara como pela segunda vez consigo ver/ouvir você dizendo isso! É verdade mesmo parando para pensar essas comédias mesmo elas nos proporcionam a melhor risada para um choro e uma reflexão como disse. Bom depois perceba agora que você vu o filme o que disse dela.

António Corvo disse...

Pois é, eu também assisti ao Divã e confesso que não ri de rigorosmente nada. Aliás, como sempre, eu e minha sociopatia acrescida de um distanciamento crítico filosófico da vida bastante perigoso, fiquei sei entender (ou o que é pior, entendi bastante bem) como é que funciona o riso em sistema de coletividade:simulação e prefiguração sociais. É como o Natal, todo mundo tem que ir ao shopping comprar alguma coisa, mesmo que nos matemos no estacionamento por uma vaga, mas nos matamos dentro do espírito de Natal, claro. Assim é no cinema. Se há uma cena cômica (com ou sem aspas), espera-se o riso, e o riso virá se estivermos dentro de uma coletividade dentro da qual o riso é esperado e, socialmente, não podemos faltar a essa obrigação. Em outras palavras, rimos porque é esperado rir.Tá certo, quando a coisa é engraçada é engraçada e pronto, ora! Mas, num filme como Divã, riu-se porque era esperado rir (pelo menos eu não vi motivo em nada pra rir, mas pode ser que eu seja só um dente com tratamento de canal temperado com suco de limão...). Aliás, façam uma experiência: vejam um filme como o Divã numa sessão lotada e depois numa sessão vazia, ou em casa e vejam se as gargalhadas foram as mesmas ou com a mesma intensidade. De qualquer forma, concordo com o autor da postagem: Divã não é comédia, é drama! E dos bons! Há também uma questão muito interessante que remete à nomenclatura das coisas, ao signo, ao rótulo: hoje a comédia é aquilo que faz rir, o drama é o que faz chorar. Pois bem, se temos nas nossas cabeças esse preconceito (no sentido mais essencial da palavra), já iremos ao cinema predispostos a esta ou àquela emoção. No entanto, a diferença entre comédia e tragédia na antiguidade não estava na quantidade de riso ou choro, e sim, exclusivamente, no final da peça: a comédia tinha o final feliz (mesmo que você chorasse durante toda a apresentação), e a tragédia tinha o final triste (mesmo que você tivesse um deslocamento de mandíbula de tanto rir). Então, por esse viés, Marlon e Eu (que eu não consigo ver por causa do Wilson, que é um saco - eu pelo menos acho) é um drama, enquanto o Divã é comédia, já que a personagem da Lilan consegue sair por cima numa boa depois de tanta coisa. Mas, mesmo que essas referências sejam mutáveis e cada um legitimamente possa e deva ver nesses filmes a comédia ou o drama, a questão é interessante: o que é drama? O que é comédia? Meu drama é cômico? Minha tragédia pessoal é a sua comédia? E o tragicômico?, tentativa patética de resolver uma esquizofrenia simbólica? Mas a questão também remete a um problema prático: o rótulo. Há que se rotular um filme (quer dizer, não há que se rotular nada, mas aí a gente cai numa anarquia sem precedentes, então...), então o critério ou é subjetivo - e aí ficamos indignados com nossas outras subjetividades - ou lança-se mão da arbitrariedade. No final, acho que o mais importa mesmo é ficar aberta a possibilidade da reflexão frente a essas subjetividades que, lamentavelmente, foram, são e serão nossa recriação social e cultural até 2012 (pelo menos segundo o calendário maia. Por mim, como eu não gosto de futebol e acho as olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro um grande equívoco - pra ser sutil - então, que venha 2012!!!)

cesaraialves@gmail.com disse...

Bastante interessante seu trabalho e fico contente ao aprovar pessoas assim como você em minha comunidade Liderança e Motivação!
Parabéns e fico a disposição para eventuais necessidades. Abs

Stella Melgaço disse...

Concordo!