quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Quando tudo não é suficiente

Fracassei. Miseravelmente fracassei. Tudo que deveria ser feito, eu fiz e não bastou. Quando tudo não é suficiente, faz-se o quê? O além do tudo? O mais do que o tudo? Mas se o tudo tem um mais ou um além, não é ainda o tudo. Então não é desse tudo que admite excesso que eu falo. Falo do tudo que esgotou as possibilidades, do tudo que redefiniu a própria margem para nunca saber quando começa o limite. E quando esse além-tudo não é suficiente? Alguns dirão a conformidade é o caminho inevitável, mas não gosto – nem do conformismo, nem do inevitável. O caminho mais fácil nem sempre é o certo e nem todo atalho corta caminho. Tem caminho que a gente mesmo corta.
Se você soubesse que seria a última vez, teria feito como? Um até logo para confundir a despedida? Não adianta confundir. Você sempre sabe quando engana a si e nenhuma vida vale se for, declaradamente, ao erro.  É errado, te digo desde já. Escolher o caminho mais fácil pelo menor esforço é sofrer por duas vezes, e você já pode sentir o peito sangrar antes mesmo do corte. Não quero viver de cuidado, eu quero mais é que meu peito exploda. Quero mais é que ele se encha tanto de amor e ódio, que exploda, de repente, como uma bexiga que transborda de ar. E quando ele explodir, não quero estar preparado. Quero me sentir sozinho, perdido, dando rodopio no olho do furacão. Quero morrer de amor e de raiva e de ódio e da coisa toda junta. Amar e odiar, ao mesmo tempo. Nada é mais libertador que isso.
Quando tudo não é suficiente e o extraordinário é pouco, tudo que posso dar é meu tempo, enquanto eu ainda o tiver. E se mesmo assim nada puder ser feito, ainda haverei de contar a história de amor mais linda e mais triste que já existiu. E vou acrescentar aquelas partes que ficaram faltando, se a gente não tiver mais tempo para acabar. Quanto a isso, não se preocupe.
Jamais me esquecerei da história mais incrível que a gente não viveu. Mas poderia.
Foto de Martha Graham

5 comentários:

Stella disse...

"Amar e odiar, ao mesmo tempo. Nada é mais libertador que isso."
E nada mais aprisionador também.
Cuide de você, beijos

George Luis disse...

O testo todo é uma batalha. Do "querer amar" e do "querer odiar". Dois inimigos que nem sabem que estão lutando pela mesma bandeira.

Que texto!

E o final? O que quer dizer a última frase? O que poderia? Ter vivido a história?
Ou poderia esquecer?
Ameaças a moça à dor do esquecimento ou à culpa da não-vivência?

Anônimo disse...

que obra mais prima!
digno de ti, rapaz. Lindo!

Lorena de Assis disse...

Houve um tempo em que você reclamava de eu nunca comentar aqui, mas acho que agora você nem liga mais... Mas eu não comento nem no do George. Aliás, nem posto mais no meu... (Sim, eu tenho um blog, sabia? Na verdade tenho 3)

Mas nesse eu precisei comentar porque este texto é meu preferido a partir de agora. Por que será que as pessoas gostam mais de nossos textos mais sofridos? Eu escrevo muito mais quando sofro... enfim...

Parabéns por isso. De verdade. Você tem um jeito diferente de escrever que eu aprecio bastante.

Marcela Quintela disse...

"Jamais me esquecerei da história mais incrível que a gente não viveu."